Hoje não publico um texto de meu nome. Ao invés, ponho à disposição de todos um apontamento de Francisco de Pan. Nasceu no século XIX mas já morreu no seguinte.
Muito influenciado pelas ideias modernistas e, em especial, de Fernando Pessoa, quis sempre com a sua escrita denunciar o que estava mal mas, principalmente, dar a sua visão não só do que se passava à sua volta mas do que é a vida. Fernando Pessoa não foi só sua influencia, foi mais que isso: Francisco viu naquele que muitos consideram o maior autor português de todos os tempos um mestre, tal como Alberto Caeiro ou Álvaro de Campos. Presença notória dessa admiração é a forma como se dirige a Pessoa na sua obra: «Mestre», sem nunca o ter conhecido.
O excerto que aqui publico é duma obra que reflete a intervenção ideológica de Pessoa na sua literatura. Tal como o Livro do Desassossego, é como que uma compilação de intervenções soltas, de trechos, de reflexões profundas sobre aquilo que lhe vinha à mente para escrever. O Interlúdio dos Desassossegados - Memórias duma Parábola Crescente difere, no entanto, em várias coisas da obra atribuída a Bernardo Soares, desde o estilo de escrita ao tom ainda mais sarcástico que inunda muitos dos «trechos».
Muito raro é, no entanto, o conhecimento deste autor e da sua obra, pois sempre preferiu por a sua obra na sombra, nunca quis ter um possível crédito ou fama que a obra poderia dar-lhe para não se quietar no mundo real como Pessoa quietou.
Este excerto refere-se à criação poética e literária, vista por Francisco de Pan.