sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jovens de Portugal


É muito difícil ser-se jovem responsável nos dias de hoje. É muito difícil passar o dia na escola, estar sentado nas mesas das salas de aula, com atenção à matéria dada e ao mais ínfimo pormenor dito pelos professores, escrever apontamentos nos cadernos, manter o estudo em dia, dar tudo por tudo, semana após semana, teste após teste, para que os resultados sejam melhores. Mas fazemo-lo e continuamos a fazê-lo porque fomos educados aprendendo que serão esses resultados o nosso passaporte para o futuro. No entanto, as pessoas que nos ensinaram a esforçarmo-nos, a dar tudo por tudo, a dar o nosso melhor em tudo o que fazemos, a lutar pelo que queremos alcançar, são as mesmas pessoas que quando nos encontram à mesa de jantar, todos os dias, falam, sem cessar, sobre todas as cargas fiscais a que se vêem constantemente sujeitos.

Como filhos que somos, percebemos que os impostos e os cortes orçamentais que ultimamente têm crescido em número e em valor, resultam num efeito negativo nas nossas famílias, não só financeira, mas também psicologicamente. Não temos filhos, mas somos crescidos o suficiente para entendermos que o pouco dinheiro que os nossos pais começam a possuir aflige-os, sobretudo, pelo medo que têm de não nos poderem dar o futuro que gostariam. E esse receio é bem fundamentado. A verdade é que se tivermos más notas, mas possuirmos dinheiro, tiramos uma licenciatura, mestrado e, com uma “cunha”, temos emprego bem remunerado ainda antes de acabar o curso. Por oposição, se tivermos boas notas, mas formos da classe média/pobre, o futuro é incerto. Terão os nossos pais dinheiro para suportar propinas, renda e todos os custos que uma ida para a faculdade inclui? Acho que esta pergunta os persegue ainda mais do que o medo de não conseguir alcançar os desejos nos persegue a nós.

Porém, não existe apenas o problema da faculdade. Ainda que os nossos pais consigam “mover montanhas” e nós consigamos licenciar-nos, onde está o nosso futuro? Onde está um emprego? Onde estão as empresas sedentas do nosso sangue novo? Onde estão as oportunidades para ser agarradas? Onde estão as iniciativas? Onde está o espírito empreendedor? Onde está um governo que incentive os jovens? Onde estão os locais que nos possibilitem pôr em prática tudo o que aprendemos? Onde estão os sítios que nos ofereçam meios para podermos dar asas ao nosso espírito crítico e criativo? Pois é... Não há disto em Portugal. A solução é abandonar o país onde crescemos, onde vivemos, onde fomos educados, que aprendemos a amar como sendo a nossa “casa”, mas que nos expulsa como animais leprosos, alegando não precisar de nós.

E aqui chegamos ao cerne da questão. O que nos magoa enquanto jovens responsáveis, não é não irmos para a faculdade por os nossos pais não conseguirem fazer milagres e não vermos o dinheiro “cair das árvores”. O que nos magoa não é não ter mil portas abertas à nossa espera assim que somos licenciados. O que nos magoa não é a falta de dinheiro para não podermos comprar a mais alta das tecnologias. O que nos magoa não é termos de pagar cada vez mais para usufruir de bens que deveriam ser gratuitos, por serem indispensáveis ao ser humano. O que nos magoa verdadeiramente é esta sensação de sermos escorraçados pelo nosso próprio país e sentirmos que não temos qualquer utilidade aqui. É triste pensar que temos de sair do nosso Portugal para podermos trabalhar e fazer aquilo que sabemos fazer de melhor. Entristece-nos que Portugal só nos dê valor depois de outros países, com os quais não temos qualquer ligação, nos reconheçam como bons profissionais. Sentimo-nos como filhos órfãos, de um pai que nos abandonou. Chegamos a repudiar este Portugal que amamos, mas que não nos ama.

Apesar de todo o cenário de terror que se avizinha, continuamos a empenhar-nos nos estudos, fazendo de tudo para que o nosso futuro seja, tanto quanto possível, risonho. Não sonhamos com luxo nem com ostentações. Acreditamos sim em vidas dignas, em direitos justos, numa sociedade igual que nos trate a todos da mesma forma, que dê importância a valores do campo psicológico e não do campo financeiro. Afinal, o que nos distingue hoje na sociedade se não o dinheiro? Dá que pensar... As pessoas que aparecem na televisão pedindo aos nossos pais esforços e prometendo que esses sacrifícios resultarão no bem-estar de todos nós, são as mesmas que surgem sempre com roupas das mais prestigiadas marcas, conduzem automóveis do mais alto calibre e têm vidas de muitíssimo elevado custo. Tudo isto à nossa frente. Aos olhos de todos, menos dos que não querem ver. Será isto justo? No século XVIII, lutava-se por sociedades que tratassem todos por igual e a História diz-nos que as Revoluções Liberais conseguiram tal objetivo. No entanto, atualmente, em pleno século XXI, observamos toda uma panóplia de atos que em tudo divergem dos valores de bom senso que aprendemos e que nos continuam a incutir. A nossa pergunta é: porquê?

Gostávamos de ser úteis no nosso País, gostávamos que nos dessem oportunidades de mostrar o que valemos, gostávamos de ser incentivados a seguir os nossos sonhos e a fazer o que gostamos, gostávamos que nos abrissem portas, pondo de parte a única que, de momento, olha para nós de forma aliciante: a de saída. Gostávamos que olhassem para nós de outra forma, que não generalizassem a nossa geração. Nós existimos e temos uma voz. Nós somos os jovens de Portugal, com o sangue na guelra para lutar contra todos os obstáculos que se colocarem no nosso caminho, com a força e as ferramentas necessárias para erguer um novo Portugal, se, claro, nos derem essa oportunidade.

Confiamos em ti, Portugal. Temos a esperança que todo o nosso esforço na escola vai ser recompensado por ti. Confia em nós também para te ajudarmos a voltar a ser o Portugal de antigamente, o Portugal das conquistas, o Portugal invejado, o Portugal das grandes glórias. Nós amamos-te Portugal. Ama-nos a nós também.

Os teus jovens.



Texto escrito por: Laura Antunes, 11ºE

Um comentário:

  1. As verdades inconvenientes que enfrentam os jovens de hoje em dia!
    Muito bem Laura, continua!

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