Num livro que
li de Domingos Amaral, escritor que esteve em Tomar e na escola que frequento muito
recentemente, houve uma passagem que me despertou especial interesse. Uma
personagem diz, a determinada altura, que o que realmente interessa são as
pessoas. Não são as ideologias que têm, nem os partidos que mais apoiam: o que
é verdadeiramente importante são as pessoas por si só. E eu não poderia estar
mais de acordo.
Tive o prazer
ou o desprazer de me deslocar até à Assembleia da República na passada semana,
numa visita de estudo. Eu, estranhamente, não tenho uma opinião clara e
definida sobre esta nossa ida. Gostei de estar sentada nas galerias e de sentir
que ali, precisamente à minha frente, estavam a conversar acerca de Portugal e
dos Portugueses. Ali, onde eu via uma sala magnífica ao ponto de me cortar a
respiração, estavam as bancadas dos diferentes grupos partidários a discutir
sobre o Estado da Nação. Ali, sentados em cadeiras com inúmeros detalhes
decorativos, estavam simplesmente a decidir o futuro de todos nós. E ali estava
eu: sentada, quieta e calada, com vergonha de estar a assistir ao lamentável
espetáculo que ali se presenciava.
É triste
pensar que o mundo da Política foi contaminado por valores que, em nada, são
éticos. É triste pensar que a política é dominada por pessoas sem qualquer tipo
de bom senso, nem mesmo de educação. Muito sinceramente, ao entrar naquele
espaço, não senti que o meu país estivesse a ser respeitado. Saí de lá com uma
enorme angústia por sermos governados por quem somos, por termos o futuro nas
mãos de quem temos, por o nosso país estar entregue a pessoas como as que ali
se encontravam. Aquelas cadeiras não mereciam ser ocupadas por pessoas como as
que se sentam nelas.
O que senti no
debate a que assisti, foi que o que ali se desenrolava era uma peça de teatro.
Mas, pior do que isso, a peça estava muito mal ensaiada. Pergunto-me se naquela
Assembleia há a noção do que ali se econtra em jogo. Pergunto-me se naquela
Assembleia há a noção de que não é o partido que está no poder que realmente
importa, mas o futuro e o bem-estar de Portugal e a dignidade dos Portugueses.
E parece-me a mim, mera adolescente, que o que falta ali são princípios e
valores tão simples como o respeito. O respeito por nós, enquanto povo. O
respeito pelos mais velhos, reformados agora, que construiram o Portugal que
conhecemos. O respeito pelos adultos, que trabalham dia após dia, para
sustentar as suas famílias e sacrificam os seus salários para, no fundo, não
ver qualquer recompensa nisso. O respeito por nós, jovens, com um futuro pela
frente, mas que, cada vez mais, o vemos limitado. Este respeito de que falo é
ensinado ainda na escola primária, quando nos dizem que é feio chamar nomes uns
aos outros ou roubar o brinquedo do colega do lado. É reforçado no ensino
básico, quando nos ensinam que não é bom invejar, dizer mal ou fazer maldades
aos outros. E, para o caso de nos esquecermos de todas estas lições, no
secundário ainda nos voltam a repetir o mesmo dado que há sempre gente
distraída e que, por incrível que pareça, não aprende, nem à primeira nem à
segunda vez. Pois a mim parece-me que são estas pessoas, com dificuldades de
aprendizagem no parâmetro da educação pessoal que nos governam. São estas
pessoas, que provavelmente os Portugueses nem conhecem, que se sentam num
respeitoso edifício como a Assembleia da República e vão atacando partidos e
deputados da oposição. Quando um fala, os outros têm conversas paralelas, não
prestando qualquer atenção ao que se passa, ao que é dito e ao que é defendido.
Ao fim e ao cabo, não se decide uma lei nem se opina sobre um assunto tendo em
conta se é bom ou não para Portugal e para os Portugueses, mas sim dependendo
se a ideia é lançada daquele ou do outro partido. Na minha opinião, este regime
é tudo menos uma Democracia. Não há debate: tudo é demasiado previsível. É como
quando vemos um filme tantas vezes que já sabemos as falas de cor. Ali, são cem
cães a um osso. O osso é o poder, que, pelo que tenho estudado, já é um osso
muito debilitado pois nunca teve um cão que verdadeiramente lhe soubesse dar
uso, o soubesse repartir por todos os cães que passam fome e que o soubesse
preservar.
Afinal, o que
são aqueles seres sentados naquelas imponentes cadeiras? São pessoas, caramba!
Pessoas que, por si só, são muito mais importantes do que um partido ou uma
organização partidária. E é isso que me faz confusão. Se são pessoas que, como
todas as outras, têm racionalidade, mas também sentimentos, como conseguem agir
assim e permanecer num regime sujo destes? Como conseguem estar ali,
importando-se com mesquinhices e intrigas entre partidos, quando há idosos abandonados,
famílias sem comer e, cada vez mais, emigração? Como conseguem estar a mandar
sms’s quando têm, nas suas mãos, nada mais nada menos do que o presente e o
futuro de 10 milhões de Portugueses?
Acredito que haja solução para Portugal.
Mas não acredito que vá ser encontrada por quem está a fingir que a procura.
Laura Antunes, 11ºE
Estou perfeitamente de acordo com todo o que dizes nesta tua análize aos nossos políticos e à forma como governam o país...
ResponderExcluirDeveriamos ser governados pelos melhores... e estamos a ser governados pelos piores...quando vemos ue a segunda figura do governo comprou uma licenciatura inteira...ou através de corrupção consegui que lha dessem não precisamos de mais...
Pena é que jovens como tu, que se formaram com garra e vontade de melhorar o mundo sejam obrigados a deixar o país para conseguir trabalho o que nos leva a pensar... “expulsos os donos da quinta continuaremos a ser governados pelos porcos” O Triunfo dos Porcos de George Orwell...............Jovens como tu são a única esperançã deste Portugal moribundo!!! Parabéns.
Laura,
ResponderExcluirTenho acompanhado algumas das tuas crónicas e não posso deixar de ficar agradavelmente surpreendida com o teu interesse pelo nosso "Estado Social" e a sua preservação.
Apesar disso, e apesar de entender muitas das críticas que tens feito, gostava também de fazer um pouco de advogado do diabo e dar-te outras perspectivas.
"não acredito que vá ser encontrada por quem está a fingir que a procura." Esta tua frase assuta-me um pouco. Tenho medo que estejas a encontrar apenas defeitos no regime de governo português e que o facto de achares que o cenário em Portugal está "negro" te influencie demasiado e não te deixe ver as coisas boas que tb acontecem e que tb são feitas.
Nós jovens, concordo contigo, devemos ter a irreverência e coragem para questionar o que está à nossa volta mas não podemos alhear-nos do que significa ser governante. Ser governante de um país, de uma cidade, de uma instituição, implica, também, uma grande coragem. Implica muitas vezes abdicares de muita da tua vida pessoal em prol de fazeres algo pela tua sociedade, pelos teus próximos e não só. Acredito que uma percentagem dos governantes que hoje criticas nasceram na política com ideias semelhantes às tuas. Ideias de mudar, de recuperar, de deixar as coisas melhores do que as encontraram. E o facto de estarem no governo não significa directamente que ganharam a doença da corrupção ou a do desleixo para com os outros. Pelo contrário, como já te disse, tentar mudar coisas seja a que escala for, dá sempre muito trabalho, faz-te abdicar de coisas pessoais da tua vida em prol desse trabalho e, por último, nunca agradará a todos. Saberás disso assim que tentares mudar o que quer que seja.
Não quero desencorajar o teu espírito crítico porque considero que, para sabermos o que é preciso mudar, temos que identificar as lacunas do sistema primeiro. Ainda assim, quero alertar-te para não te deixares levar apenas pela onda de revolta e desânimo, própria de uma época de crise economica e social como aquela que atravessamos.
Pensa por 5 minutos ao contrário. Se fosses governante do alguma coisa, pública ou não, estatal ou não, não importa. Tinhas ideias de mudança, tinhas ideias boas, válidas e justas. Tentavas todos os dias levá-las avante com tudo o que tinhas ao teu dispor. Mas para a melhoria do bem comum, tinhas que prejudicar outros, ou a tua medida não era do agrado da maioria, apesar de tu saberes que era o necessário ou mais justo para aquele conjunto de pessoas. Dia após dia, semana após semana, tudo o que ouvias eram críticas e sarcasmos. Que vontade tinhas para continuar? Até quando conseguirias abdicar de horas com a tua família para dedicar a esse conjunto de pessoas que não entendem a necessidade e justiça das medidas que queres aplicar?
Não me vejas como defensora cega do governo e não penses que ignoro a corrupção e incompetência de muitas das pessoas, nos variados cargos que ocupam. Queria só dar-te uma outra perspectiva.
Seguirei as tuas crónicas com agrado. Boa sorte e não desistas de mudar para melhor!
Joana Simões
Mais uma vez, parabéns pela qualidade do seu texto.
ResponderExcluirParabéns, Laura!!!
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